21 de outubro de 2017

Obstrução congênita das vias lacrimais

Seu bebê nasce lindo! Tão esperado... 9 meses de ansiedade e espera.... Tudo pronto para recebê-lo. Você é mãe! Toma todos os cuidados de higiene diariamente, mas o olho do seu bebê está sempre lacrimejando e remelando.

Você conversa com o pediatra, que diz que deve ser por causa do colírio que é pingado na maternidade (nitrato de prata) e que vai passar com o tempo. Mas, não melhora…. Ao contrário, passaram-se 3 meses e piorou…. Agora, o olho lacrimeja o tempo todo e remela mais ainda!

A família não para de perguntar o que ele tem, por que você não limpa o olho dele, por que você não leva no médico. Falam que pode ser uma infecção, que isso pode deixar seu bebê cego etc. E daí começam a dar palpites: põe chá de camomila, põe leite de peito (afff… por favor, não faça isso!!), colírios e várias outras invenções ou crendices.

Você vai na internet e lê que pode ser obstrução das vias lacrimais e começa a fazer uma massagem que eles orientam lá. Mas não melhora! Você começa a se sentir a pior mãe do mundo e já não sabe mais o que fazer!

Na verdade, a obstrução do ducto nasolacrimal é, de longe, o distúrbio do sistema lacrimal mais comum encontrado em oftalmologia pediátrica, ocorrendo em aproximadamente 5% dos recém-nascidos com 9 meses. Isso ocorre devido a uma membrana no final do ducto nasolacrimal que desemboca no nariz.

 

 

Caminho normal da lágrima: as pálpebras produzem a lágrima que lubrifica o olho. Quando piscamos, a lágrima vai em direção aos canais lacrimais no canto interno do olho, daí caminham para o saco lacrimal, então descem pelo ducto nasolacrimal até o nariz, depois vai para a garganta e engolimos sem perceber. Com a obstrução, a lágrima retorna e começa a se acumular, por isso aparece a secreção (remela).

Uma característica clínica importante da obstrução congênita das vias lacrimais é que os bebês com esta doença tipicamente não aparecem incomodados por isso. Além disso, a córnea e a conjuntiva geralmente são normais.

O tratamento conservador inclui massagem lacrimal e uso de antibióticos tópicos. A massagem serve 2 propósitos: esvazia o saco, reduzindo assim a oportunidade para o crescimento bacteriano, e aplica-se pressão hidrostática para a obstrução, que pode abrir o duto e resolver a condição. A massagem é realizada pressionando-se sobre o saco lacrimal, no canto do nariz, algumas vezes por dia. Passar o dedo ao longo do nariz, que muitas vezes é recomendado erroneamente pelos prestadores de cuidados primários, não é eficaz porque o ducto lacrimal é coberto por osso neste local.

Os antibióticos tópicos são recomendados se os pacientes tiverem uma secreção periocular significativa.

Com a massagem hidrostática desenvolvida pela Dra. Ana Carolina Cassiano, da EyeKids Oftalmopediatria, 99% dos pacientes melhora com o tratamento clínico até os 18 meses, sem precisar realizar a sondagem da via lacrimal para romper a membrana que obstrui o ducto (feita em centro cirúrgico com anestesia geral). Para alcançar essa porcentagem de cura, a massagem deve ser realizada pelos pais e cuidadores exatamente como ensinado em consulta.

A chance de cura com a massagem diminui muito após os 12 meses de idade, então não espere para levar seu bebê ao oftalmopediatra. Quanto antes, melhor!

escrito por

Dra. Ana Carolina Cassiano

A paixão da Dra. Ana Carolina Cassiano por crianças sempre existiu. Mas foi depois de se tornar mãe que essa vocação ficou ainda maior. Sabia que seguiria a carreira de médica desde os 14 anos. Cursou medicina na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, formando-se em 2004. Optou por se especializar em oftalmologia por afinidade. Sentia que era isso que queria fazer para o resto da vida.

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